" O amor quer poupar ao outro, ao qual se volta, todo sentimento de estranheza, portanto ele é extremamente levado à dissimulação e à assimilação, está sempre enganando, e faz um teatro de igualdade que na verdade não existe. E isso ocorre tão instintivamente que as mulheres que amam negam essa dissimulação e esse engodo tão terno, porém contínuo, e pretendem audaciosamente que o amor torna iguais (o que quer dizer que ele opera um milagre!). - Esse fenômeno é muito simples quando uma pessoa se deixa amar e não precisa fingir, deixando isso à outra, àquela que ama: mas não há peça teatral mais complicada e inextricável do que quando ambas estão plena e mutuamente apaixonadas e cada qual, por conseguinte, renuncia a si e quer igualar-se à outra e identificar-se só com ela: e nenhuma das duas, no final das contas, sabe mais o que deve imitar, o que deve fingir, por que tem de se dar. A bela loucura desse espetáculo é bela demais para este mundo e sutil demais para os olhos humanos. "
NIETZSCHE, Aurora
Música: Se, de Djavan.
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