domingo, 25 de outubro de 2009

Baseado em fatos reais




Hoje olho para trás e, depois de tanta coisa passar, observo com maior frieza o passado.
Não vou mentir, só não é um olhar totalmente neutro porque ainda existe sentimento dentro de mim.
Na verdade, gostaria que isso não mais existisse, mas há coisas que, infelizmente, não conseguimos controlar.
Ainda que nosso esforço para ser racional seja algo surpreendente: você não manda no seu coração. Você manda nas suas atitudes, faz suas escolhas - o que deixa ou não transparecer. Porém, não dá para esconder de si mesmo o que você, inegavelmente -ainda que o negue para Deus e o mundo - sente.
Olho para trás. Releio emails, revejo cenas, analiso detalhes de uma história.
Como floreamos as coisas quando estamos emocionalmente envolvidos em uma situação.
Percebo a discrepância entre o que eu queria e o que realmente acontecia.
Noto o quanto eu colocava cada palavra, cada ação em uma dimensão muito além do que ela era.
Quando gostamos de alguém, muitas vezes, sem querer, distorcemos os fatos para nós mesmos - manipulamos nossos pensamentos - idealizamos situações de forma a nos colocarmos sempre em uma posição de esperança, de alguém à espera de que algo aconteça.
E esse algo não acontece.
No entanto, naquele momento, não entendemos o porquê disso: estávamos envolvidos, não conseguimos enxergar o que estava nítido em cada atitude, em cada sinal, desde o início. Já era um amor mal correspondido.
O passar do tempo é cruel, não esconde a realidade, torna claro o que estava obscurecido pela avalanche de sentimentos.
No presente, diante de tantas recordações e vestígios do que sobrou, enxergo o óbvio, com muito pesar.
Na hora em que a "ficha cai" a sensação é de raiva, de rigidez consigo mesmo, de não conseguir se perdoar de não ter enxergado as coisas como elas eram, de fato. Nos sentimos como bobos.
Apesar da raiva, existe um consolo: se naquele momento enxergássemos as coisas como elas realmente eram, com certeza não teríamos feito metade dos esforços que empreendemos para conquistar o que tanto desejávamos. E é essa sensação de que fizemos tudo o que podíamos pelo que sonhávamos é que nos alivia. Bem, se não deu certo não foi culpa minha, eu tentei. A nossa sensação de alívio é o algoz dos que, ao acaso, vêem  descobrir - depois de não nos restar mais nenhum sentimento - o que perderam, o que não aproveitaram e o que, literalmente, rejeitaram e jogaram fora. Não, não é "dor de cotovelo", é fato e, quase sempre acontece, de forma muito triste, nas melhores famílias. A maior parte dessas histórias não tem final feliz, salvo as que a outra pessoa de verdade se empenha na reconquista do amor "perdido" - e quando o outro ainda está disposto - ou quando ainda resta um sentimento remanescente em quem foi rejeitado, ainda que ínfimo após tantas decepções. De qualquer forma, melhor não viver por esperar para ver isso. Melhor é "tocar o barco", pois nossa parte já fizemos e, se o outro quiser: ele que se vire.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

"O pouco com Deus é muito"




Hoje eu estava saindo da academia e fui pagar o "flanelinha" que estava olhando o carro.
 Mas eu quase não tinha dinheiro trocado, só algumas moedas.
Então disse a ele: "não repara, mas hoje estou com pouco trocado".
Ele respondeu: "não tem problema, o pouco com Deus é muito".
Surpresa com a resposta dele, pois achei que ele não iria ficar satisfeito ou mesmo iria achar ruim a quantia que eu estava dando, repeti a ele: "realmente, o pouco com Deus é muito".
Essa resposta dele muito me surpreendeu e me fez pensar em várias coisas...
Como tantas vezes nós reclamamos...
Sim, nos queixamos do trânsito, do tempo ruim, da falta de tempo, do tanto de coisas que temos pra fazer, de que nos falta isso, de que não entendemos aquilo...
Alguma coisa dá errado ou não sai do jeito que gostaríamos e lá já estamos nós "ruminando"...
Acabamos esquecendo de agradecer...
Agradecer pela nossa vida, pela nossa família, pelas oportunidades que temos, pela proteção que Deus nos dá, pelos amigos, pelos momentos bons, e até mesmo pelos ruins, já que nada é por acaso e tudo é uma chance para crescermos, nos adaptarmos às situações, repensarmos nossas histórias e atitudes...entre tantas coisas...pois o que a dor faz é simplesmente mostrar o que, talvez sem ela, nós nunca enxergássemos...
Após esse episódio com o "flanelinha", me senti pequena...
Ele, provavelmente desempregado, caso contrário não estaria ali naquele horário...enfim, apesar de nem saber nada sobre ele, nem sua história, nem nada, sei que, com certeza uma coisa ele sabe fazer: ser grato pelo que tem, pelo que ganha e ainda que seja isso muito pouco....
Saí dali agradecendo à Deus tudo que eu tenho, tudo que eu sou, tudo que me aconteceu até hoje..
Agradeci mesmo as coisas ruins...porque sei que poderiam ser piores...sempre pode ser pior...
Mas o interessante disso tudo é que o ato de agradecer, de falar, fez-me explicitar muitas coisas boas. Para isso tive que fazer um esforço mental para enxergar o que era bom em mim, ao meu redor e na minha vida.... Com isso fiquei mais feliz, já que percebi: há muita graça na minha vida e com certeza há o dedo de Deus nisso...Como Ele me protege, está sempre comigo, olha por mim mesmo quando eu me esqueço Dele ou o coloco em último plano...Como Deus é misericordioso, como Ele está sempre cuidando de tudo, mesmo quando nos sentimos a miséria em pessoa e não merecedores da Sua graça...
Deus é amor, nos ama incondicionalmente e cuida da gente por amor, de graça...
E basta darmos um único passo em direção à Sua misericórdia para que tudo se renove...
Depois de toda essa reflexão, concluí: Deus nos manda recados.
Ele fala conosco através das coisas mais pequenas e dos simples gestos...
E devemos estar sempre atentos, de coração aberto, para escutarmos Sua voz e percebermos Seus sinais.
Mas, de verdade, o que é pouco, com Deus, é muito !

sábado, 17 de outubro de 2009

Orgulho e Preconceito

Orgulho e Preconceito (Pride & Prejudice).
 É um dos meus filmes preferidos.
Se não for O preferido, visto que já assisti um monte de vezes...
Na verdade, perdi a conta de quantas vezes eu assisti...
Sabe aqueles filmes, que quando você está mudando de canal na TV, você  não consegue simplesmente passar direto pelo filme ?
Então...eu sempre paro nesse fime...impossível passar indiferente...
Os dois atores, Keira Knightley e Matthew Macfadyen.. são lindos......formam um casal belíssimo...o filme é incrivelmente romântico...
Um filme de época que se passa no continente europeu, entre os séculos XVIII e XIX (romance de Jane Austen adaptado para o cinema).
Não que eu seja uma romântica incorrigível, como no livro que acabei de ler  (um dia escrevo sobre ele), mas é que esse filme contém cenas muito bonitas mas, sobretudo, diálogos ricos, fortes, cheios de emoção...que mostram como mesmo entre duas pessoas que se gostam muito, pode haver preconceito..
Como o pré-julgamento ou o não esclarecimento de algo ou de alguns fatos pode realmente complicar tudo entre duas pessoas...
O enredo é muito bacana, leva-nos a pensar até que ponto as diferenças e outras coisas podem influenciar os sentimentos das pessoas, às vezes contraditórios em relação ao preconceito e ao orgulho, quando elas, na verdade, estão dominadas pelo amor....
E a confusão que os dois personagens do filme arrumam até conseguirem se encontrar..e como eram orgulhosos....
Além disso, o filme (dirigido por Joe Wright)  tem cenas muito bem feitas, como a cena da dança, enorme, e realizada sem um corte sequer..
 O filme também possui algumas cenas engraçadas, uma trilha sonora excelente, paisagens exuberantes  e  muito bom gosto no quesito arte e figurino. 
Por fim... a cena final... sem comentários...(e sem dúvidas...) é uma das mais lindas que eu já vi ! 
Vale a pena ver.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Em Busca de Respostas

"Há pouco tempo, estive no México. Lá tive o prazer de visitar as famosas pirâmides de Teotihuacán, construídas pelas valorosas civilizações indígenas que povoaram o território mexicano antes da conquista dos espanhóis.
Não é uma escalada fácil. Demanda competência, muito esforço e grande força de vontade. São os mesmo fatores necessários para se vencer na vida pessoal e na carreira profissional. O desafio de subir a pirâmide me fez refletir sobre uma questão desconcertante: "Por que há tantos executivos frustrados com suas carreiras?"
Para explicar o fenômeno, tenho recorrido à analogia de duas outras pirâmides. A primeira é a Pirâmide de Necessidades de Maslow, tese elaborada pelo psicólogo e professor do MIT, Abraham Maslow (1908 – 1970), onde ele cita que um ser humano deve atender em boa parte certa necessidade para, então, passar a uma outra hierarquicamente superior.
Na base da Pirâmide de Maslow, encontra-se a maioria da população - preocupada em atender suas necessidades fisiológicas: comer, respirar, dormir etc. Acima, encontramos uma parcela menor, já preocupada com sua segurança, dentro de uma perspectiva individualista.
Subindo na pirâmide, há outros seres humanos focados na ascensão social ou na necessidade de pertencer a grupos diferenciados. E afunilando mais ainda, temos uma parcela menor de pessoas preocupadas com a estima ou admiração dos outros.
Maslow identificou nesse nível um outro grau de estima mais elevado, a auto-estima: a própria pessoa se admira, se gosta e goza de independência, que define como o direito de ser quem você é. E, por último, no topo da pirâmide, encontra-se uma pequeníssima parcela da população (o autor cita que representa menos de 2%) que atingiu a auto-realização, ou seja, seu pleno potencial - pessoas como Cristo, Buda, Gandhi, Tómas de Aquino e alguns outros.


Tomando emprestada a pirâmide de Maslow, elaborei, após muitos anos lidando com executivos e profissionais, uma tese que denominei de "Pirâmide de Realização no Trabalho". Ou como alguns amigos chamam: Pirâmide do Wong.
Na base dessa pirâmide, equivalente à nossa necessidade fisiológica, está o emprego, que possibilita obter os recursos ou um salário para comermos e assim sobrevivermos. Mas sabemos que um emprego não nos dá segurança; procuramos então adquirir uma profissão, a de engenheiro, advogado, administrador, professor etc.
Com um diploma, a pessoa não se contenta em ser um profissional raso; quer progredir, ascender, pertencer a grupos ou hierarquias diferenciadas. Ou seja, almeja uma ascensão profissional e tenta esta escalada no mundo corporativo por meio de uma carreira.
Em meus anos como headhunter e consultor empresarial, tenho percebido uma crescente frustração com a carreira no meio executivo. Por quê? Se almeja uma promoção e não a consegue, você fica frustrado. Caso a consiga, está preparando sua próxima eventual frustração, pois vai querer mais uma outra promoção. Para quem não sabe, a palavra carreira deriva-se expressão latina “via carrera”. Na prática, isso significa a via ou o caminho das carroças e carretas.
Não é uma boa definição? A pessoa entra nos trilhos e não consegue sair mais daquela via. Podemos dizer que ficou “bitolada”.
Se emprego não é a solução, nem profissão e tampouco a carreira, qual é a saída que lhe dará a auto-estima, a realização e a liberdade? Esta palavra, meu caro leitor, é a vocação, que também vem do latim e significa "sua voz interior", "seu chamado". Para aqueles que encontram sua verdadeira vocação através do auto-conhecimento, o universo celebra e conspira a seu favor.
Por fim, chegamos ao topo da pirâmide, onde meu cume encontra com o de Maslow. Denominei de "Missão", palavra que provém do verbo latim “mittere”, "enviar".
Um missionário é uma pessoa enviada para pregar a palavra, assim como um míssil é um artefato enviado para atingir determinado alvo. Por certo, fomos todos enviados aqui à Terra para cumprir nossa missão, que é fazer esse mundo melhor do que o encontramos. Mas, infelizmente, são raras as pessoas ou líderes no mundo corporativo que transcenderam a história e o tempo e deixaram suas marcas perenemente.
Muitos indivíduos estão agarrados ao seu emprego, ficam na base da pirâmide. Alguns demasiadamente preocupados com a sua profissão, que por vez pode até ter sido mal escolhida. Outros estão bitolados e frustrados com sua trajetória profissional. Dê uma chance a si próprio e dê ouvido à sua voz interna: a sua vocação. Só você tem acesso a ela e mais ninguém.
Vendo as pirâmides de Teotihuacán, que sobrevivem a todas as intempéries por séculos e séculos, tenho certeza que os líderes da época as ergueram motivados por sua vocação e por uma missão. E nos dão uma lição valiosa: aqueles que encontrarem sua verdadeira vocação deixarão um rico legado para posterioridade.
Resta saber agora, leitor, onde você se encontra na pirâmide. Você está usando suas competências, esforços e força de vontade para escalá-la?"


* Texto de Robert Wong (autor dos livros “O Sucesso Está no Equilíbrio” e “Super Dicas para Conquistar um Ótimo Emprego” e um dos palestrantes mais inspiradores e requisitados do
mercado) - (grifos meus).
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Recebi o texto acima do meu querido irmão André.
Chegou na hora exata, já que há muitos anos reflito sobre o assunto "vocação", o que foi a causa, ou melhor, o impulso para mudanças significativas na minha vida.
Quem me conhece sabe que não sosseguei até ter certeza de estar percorrendo o caminho que realmente corresponde ao que considero ser minha vocação.
Lembro-me como se fosse hoje da minha incansável busca sobre saber o que me faria feliz em termos profissionais. Como me incomodava ver os outros falar com tanto gosto e felicidade do que faziam, do que estudavam...e eu não sentia o mesmo em relação ao meu presente e, muito menos em relação ao lugar a que esse presente iria me levar...Eu me achava estranha no meio de tanta gente determinada e decidida, para não dizer resolvida. Seria eu uma pessoa perfeccionista demais, ou seria apenas alguém que não se deixava acomodar com o "mais ou menos"?
Fiquei aliviada quando percebi que a resposta era a segunda opção...
O incômodo de não estar plenamente satisfeita com o que eu fazia, estudava, me levou a questionar pela segunda vez a faculdade em que mais tarde me formaria -
e formei.
Inicialmente, questionei apenas comigo mesma e com Deus. Rezei, pedi que o Espírito Santo me iluminasse para que eu desccobrisse minha verdadeira vocação, minha missão...
Após ter certeza de que não se tratava de nenhuma "viagem" ou insatisfação temporária, a famosa crise de identidade, questionei com os outros e, por fim, o mais difícil: questionei com os amigos e familiares...Claro, de primeira, alguns riram, outros duvidaram, alguns não acreditaram, caçoaram: "você nunca vai parar de estudar?", "meu deus, quantos cursos você já fez?", "você não sabe o que quer até hoje!?"...
Mas esse é o preço que se paga pelas suas escolhas, ainda mais quando elas fogem do padrão imposto pela sociedade: o bitolado caminho que temos que percorrer..e no tempo "certo", ai de você se chegar atrasado!
No entanto, o que muitas vezes as pessoas ignoram é que cada um tem o seu tempo e a sua maneira de se descobrir como pessoa. Isso se chama auto-conhecimento. Infelizmente, muitas pessoas passam a vida inteira sem se auto-conhecer, pois isto requer coragem de "sair da margem para o oceano", onde há tempestades, inseguranças, indecisões, dúvida...medo.
Realmente é muito mais fácil "estacionar" onde já estamos e onde já conhecemos do que nos arriscarmos em "novas terras", "novos ares".
Hoje, eu tenho certeza de que minhas dúvidas, minha inquietação e sensação de não saber o que eu queria não eram de modo algum "viagem" minha. Eram sim fontes concretas de insatisfação que, se não fossem resolvidas naquele tempo, mais cedo ou mais tarde poderiam repercutir em problemas mais graves de infelicidade, "vá saber", afetar até minha saúde...Por isso, olho para trás e vejo: como foi importante PARAR naquele momento, não ignorar o que eu sentia e questionar o que era isso, de onde surgiu, porque estava acontecendo..etc...
Muitas pessoas passam por esses momentos de inquietação e, talvez por medo ou outros motivos, ignoram as circuntâncias em que se encontram e fingem que nada está acontecendo...é uma auto blindagem...funciona na hora...mas no futuro, com certeza, mais cedo ou mais tarde, isso pode vir como uma avalanche, um vulcão em erupção, de insatisfãção, seja na vida emocional, espiritual ou profissional. O pior é quando isso vem em forma de doenças, psicológicas, psiquiátricas ou mesmo físicas e a pessoa não consegue mesmo descobrir a causa de tudo..e quem é da área da saúde sabe: tratar somente dos sintomas é, em parte, "mascarar o problema": não resolve mesmo. Além disso, adiar o problema é, às vezes, não conseguir ou não poder resolvê-lo no futuro, já que o tempo é inexorável, não se volta ao passado e há oportunidades que podem passar despercebidas...
Aos que costumam se "auto blindar", digo: a parte mais difícil é a descoberta do problema, onde e porque está errado, o que não está funcionando. Após você conhecer o que o está levando à insatisfação fica tudo mais fácil...Depois de assumido o problema, vá em busca da solução. Quando você enfim achá-la, o grau de certeza e de decisão será tão grande que, mesmo que alguns não acreditem em você incialmente, com o tempo a sua determinação na mudança não deixará dúvidas de que você realmente sabe o que quer, porque quer, aonde vai e porque vai...
Ademais, há coisas que só você pode fazer por si mesmo...há decisões, escolhas que competem somente a si mesmo...se você não o fizer, ninguém o fará...
OK, estaria mentindo se falasse que isso não traz sofrimento. Todo processo de crescimento, de amadurecimento, passa pelas profundezas do nosso eu..faz-nos perscrutar e visitar lugares até então, muitas vezes, desconhecidos...é inegável a dor que isso traz...Mas te digo: coragem em sua descoberta, não se acomode, o caminho vale a pena ! A recompensa é gratificante e a graça toda muitas vezes está no próprio caminho...

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Pensar: estrada sem fim...


O texto abaixo, de Rubem Alves, me fez refletir muito esses últimos dias...
Já tem umas duas semanas que tenho me dedicado, durante alguns dias da semana, na produção de um artigo científico em que eu sou responsável por uma de suas partes.
Já escrevi dois outros artigos e já fiz uma monografia de fim de curso, além de outros trabalhos exaustivos, mas confesso que essa parte desse artigo, especialmente - ainda que não muito grande nem muito pequena -deixou-me  bastante cansada mentalmente. E, lendo o texto abaixo, descobri o porquê disso.
O que eu escrevi era sobre uma das teorias de Jürgen Habermas, filósofo e sociológo alemão, um gênio, na minha opinião. Para escrever sobre isso, logicamente, tive que ler e estudar muito,já que não sou superdotada, rs.
Porém, a leitura de conteúdos relacionados com a filosofia e a sociologia, pude perceber, é mais pesada, mais lenta e exige uma reflexão maior do que a de outras disciplinas ou matérias. Isso porque em cada frase que você lê estão implícitos diversos conceitos em várias palavras....o que não pode de jeito nenhum passar despercebido, pois pode comprometer a compreensão do texto. Para o entendimento do sentido do texto, dessa forma, há necessidade de muita concentração.
Mas, o que mais me levou a uma estafa mental foi o fato de que a "simples" leitura que tinha o intuito de se transformar em uma produção de conhecimento foi muito além disso: levou-me para uma reflexão interior, sobre a minha vida, os meus conceitos, a minha visão de mundo...fez-me pensar !!! Isso é bom? Sim, é bom...mas cria problemas...rs...e agora preciso de achar as respostas, as soluções...e quando a gente acha uma, aparecem outros questionamentos e por aí vai..uma estrada sem fim...nunca acaba...
E aí, cuidado (!): pensar, como afirma Rubem Alves, é uma coisa muito perigosa...
Paro por aqui. Deliciem-se com o texto seguinte...

Rubens Alves...Saúde Mental


"Fui convidado a fazer uma preleção sobre saúde mental. Os que me convidaram supuseram que eu, na qualidade de psicanalista, deveria ser um especialista no assunto. E eu também pensei. Tanto que aceitei. Mas foi só parar para pensar para me arrepender. Percebi que nada sabia. Eu me explico: Comecei o meu pensamento fazendo uma lista das pessoas que, do meu Ponto de vista, tiveram uma vida mental rica e excitante, pessoas cujos livros eobras são alimento para a minha alma. Nietzsche, Fernando Pessoa, Van Gogh, Wittgenstein, Cecília Meireles, Maiakovski. E logo me assustei. Nietzsche ficou louco. Fernando Pessoa era dado à bebida. Van Gogh matou-se. Wittgenstein alegrou-se ao saber que iria morrer em breve: não suportava mais viver com tanta angústia. Cecília Meireles sofria de uma suave depressão crônica. Maiakoviski suicidou-se. Essas eram pessoas lúcidas e profundas que continuarão a ser pão para os vivos muito depois de nós termos sido completamente esquecidos. Mas será que tinham saúde mental? Saúde mental, essa condição em que as idéias comportam-se bem, sempre iguais, previsíveis, sem surpresas, obedientes ao comando do dever, todas as coisas nos seus lugares, como soldados em ordem unida, jamais permitindo que o corpo falte ao trabalho, ou que faça algo inesperado; nem é preciso dar uma volta ao mundo num barco a vela, basta fazer o que fez a Shirley Valentine (se ainda não viu, veja o filme) ou ter um amor proibido ou, mais perigoso que tudo isso, a coragem de pensar o que nunca pensou. Pensar é uma coisa muito perigosa...Não, saúde mental elas não tinham... Eram lúcidas demais para isso. Elas sabiam que o mundo é controlado pelos loucos e idosos de gravata. Sendo donos do poder, os loucos passam a ser os protótipos da saúde mental. Claro que nenhum dos nomes que citei sobreviveria aos testes psicológicos a que teria de se submeter se fosse pedir emprego numa empresa. Por outro lado, nunca ouvir falar de político que tivesse depressão. Andam sempre fortes em passarelas pelas ruas da cidade, distribuindo sorrisos e certezas. Sinto que meus pensamentos podem parecer pensamentos de louco e por isso apresso-me aos devidos esclarecimentos. Nós somos muito parecidos com computadores. O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, literalmente "equipamento duro", e a outra denomina-se software, "equipamento macio". Hardware é constituído por todas as coisas sólidas com que o aparelho é feito. O software é constituído por entidades "espirituais" - símbolos que formam os programas e são gravados nos disquetes. Nós também temos um hardware e um software. O hardware são os nervos do cérebro, os neurônios, tudo aquilo que compõe o sistema nervoso. O software é constituído por uma série de programas que ficam gravados na memória. Do mesmo jeito como nos computadores, o que fica na memória são símbolos, entidades levíssimas, dir-se-ia mesmo "espirituais", sendo que o mais importante é a linguagem. Um computador pode enlouquecer por defeitos no hardware ou por defeitos no software. Nós também. Quando o nosso hardware fica louco há que se chamar psiquiatras e neurologistas, que virão com suas poções químicas e bisturis consertar o que se estragou. Quando o problema está no software, entretanto, poções e bisturis não funcionam. Não se conserta um programa com chave de fenda. Porque o software é feito de símbolos, somente, podem entrar dentro dele. Assim, para se lidar com o software há que se fazer uso dos símbolos, eles podem vir de poetas, humoristas, palhaços, escritores, gurus, pastores, amigos e até mesmo psicanalistas... Acontece, entretanto, que esse computador que é o corpo humano tem uma peculiaridade que o diferencia dos outros: o seu hardware, o corpo, é sensível às coisas que o seu software produz. Pois não é isso que acontece conosco? Ouvimos uma música e choramos. Lemos os poemas eróticos de Drummond e o corpo fica excitado. Imagine um aparelho de som. Imagine que o toca-discos e os acessórios, o hardware, tenham a capacidade de ouvir a música que ele toca e se comover. Imagine mais, que a beleza é tão grande que o hardware não a comporta e se arrebenta de emoção! Pois foi isso que aconteceu com aquelas pessoas que citei no princípio: A música que saia de seu software era tão bonita que seu hardware não suportou... Dados esses pressupostos teóricos, estamos agora em condições de oferecer uma receita que garantirá, àqueles que a seguirem à risca, "saúde mental" até o fim dos seus dias. Opte por um software modesto. Evite as coisas belas e comoventes. A beleza é perigosa para o hardware. Cuidado com a música... Brahms, Mahler, Wagner, Bach são especialmente contra-indicados. Quanto às leituras, evite aquelas que fazem pensar. Tranquilize-se há uma vasta literatura especializada em impedir o pensamento. Se há livros do doutor Lair Ribeiro, por que se arriscar a ler Saramago? Os jornais têm o mesmo efeito. Devem ser lidos diariamente. Como eles publicam diariamente sempre a mesma coisa com nomes e caras diferentes, fica garantido que o nosso software pensará sempre coisas iguais. E, aos domingos, não se esqueça do Silvio Santos e do Gugu Liberato. Seguindo essa receita você terá uma vida tranqüila, embora banal. Mas como você cultivou a insensibilidade, você não perceberá o quão banal ela é. E, em vez de ter o fim que tiveram as pessoas que mencionei, você se aposentará para, então, realizar os seus sonhos.  Infelizmente, entretanto, quando chegar tal momento, você já terá se esquecido de como eles eram..."

Rubem Alves . Sobre o tempo e a eternidade. Campinas: Ed. Papirus, 1996

sábado, 3 de outubro de 2009

Fala de Deus !!!

Já tem um tempo que virei literalmente fan da Banda Rosa de Saron.
Para vocês terem idéia, até em show deles eu já fui,  e recomendo, muito bom!
Além de ser música de boa qualidade - não dá pra negar, eles fazem arranjos musicais bem trabalhados e a  voz é muito boa  - do vocalista Guilherme de Sá. Vale a pena conferir o dvd acústico deles.
A música é ótima de ouvir e o que particularmente me chamou a atenção foi o modo sutil, mas totalmente aconchegante, de como eles se referem à Deus.
Eles chamam Deus de "você", como alguém próximo, um amigo.
Cantar as músicas, dessa forma, envolve-nos em uma atmosfera de intimidade com o Criador, a qual é confortante!
Mas a sutileza é de tal forma, que quem não tiver a sensibilidade de perceber que o amor de que tanto falam não é um amor humano, mas um amor divino, vai provavelmente cantar a música pensando em algum ser humano objeto de seu desejo...Mas falar de Deus é coisa de outro mundo, não é para qualquer um...
Além disso, a banda é de pop-rock, o que agrada e muito o público jovem cristão, geralmente o mais sedento pela graça de Deus.
No mesmo sentido e igual  é aquela música da banda LS Jack "sem radar",  a qual pouca gente teve a perspicácia de perceber que o Marcos Menna escreveu a música para Deus. Claro, um amor incondicional do jeito como é expressado nessa música maravilhosa, só por DEUS, de DEUS e para DEUS: "amargo é o mundo sem você.." ...."Você me entorpeceu E desapareceu Vou ficando sem ar O mundo me esqueceu Meu sol escureceu Vou ficando sem ar Esperando você voltar..."
Amor que te deixa sem ar, que a ausência te faz achar que o mundo te esqueceu ...só pode ser o amor de DEUS...Saiba que, se algum ser humano com sua ausência provoca em você esses sentimentos: só pode ser doença, obsessão, pois, saudável não pode ser.




A música abaixo, da banda Rosa de Saron, "Do Alto da Pedra", faz parte do dvd acústico e tem a participação especial, nesta canção, do ator e cantor Rafael Almeida.





Admiro a coragem  dos que falam em Deus, de Deus, por Deus no mundo de hoje, onde tantos rechaçam Sua presença nos mais diversos assuntos. A falta de compromisso com o outro em uma humanidade cada vez mais individualista em que se valoriza mais o "ter" e o "poder" do que o próprio  "ser" afasta-nos da fonte primordial da vida e dos verdadeiros valores. O homem perde suas raízes, sua referência do que é a vida e do valor que esta tem. Prova cabal disso é que poucos vivem, na prática, o real sentido de família e, por isso mesmo, tantos casamentos não dão certo e quase ninguém acredita mais nessa instituição. Não vou me entreter aqui, isso pode ser tema, quem sabe, para um futuro post. No mais, espero que vocês curtam o Rosa...