sábado, 22 de agosto de 2009



EXPECTATIVA e Frustração - PERSPECTIVA e Esperança


Esperava-se justiça em uma causa e ela não veio.

Esperava-se cura de uma doença e ela não aconteceu.

Esperava-se passar em um concurso e não deu.

Esperava-se solucionar um problema e ele complicou ainda mais.

Esperava-se fidelidade amorosa de uma pessoa e houve traição.

Esperava-se uma vitória e o que se apresentou foi derrota.

Esperava-se um Messias libertador e ele veio falando de flores e pardais.

Esperava-se um desfecho triunfante sobre os inimigos e o final foi a morte solitária na cruz.


Certamente você já passou por momentos de frustração em sua vida.Você esperava um determinado desfecho e o que aconteceu foi exatamente o contrário. E o coração ficou ferido, senão despedaçado. Lidar com a decepção não é fácil, pois implica o abandono das expectativas que tínhamos em relação a alguma pessoa ou situação.

Buda dizia que o homem sofre porque tem expectativas. Ele fez uma leitura correta daquilo que nos acontece. Quanto mais expectativas se nutre, mais sofrimento pode ser gerado, pois todas realidades são mutantes e não estão sob o controle de nossos desejos. Não é verdade que isso acontece até mesmo em relação às nossas coisas pessoais? Nós mesmos não damos conta daquilo que acontece em nosso interior.

O que fazer, então? Deixar de esperar? Tornar-se cético? Ou procurar olhar além do que eu espero e acolher a dádiva que cada realidade me apresenta mesmo quando não correspondem exatamente àquilo que eu esperava? Quando nos educamos nesta perspectiva, somos abertos à novidade que a vida como um todo nos apresenta.

Talvez seja isso: deveríamos trocar a EXPECTATIVA pela PERSPECTIVA. O dicionário Aurélio assim define Expectativa: esperança fundada em supostos direitos, probabilidades ou promessas. Já a definição de perspectiva é esta: arte de representar os objetos sobre um plano tais como se apresentam à vista; um aspecto sobre o qual uma coisa se apresenta ; ponto de vista.

Há também, no dicionário, uma equivalência conceitual entre expectativa e perspectiva, mas é interessante notar que o conceito de perspectiva é mais amplo. Se nutro expectativas, baseio-me em "supostos direitos ou probabilidades ou mesmo promessas"; se nutro perspectivas, sei que estou me colocando em um ponto de vista e todo ponto de vista é apenas a vista de um ponto, ou seja, não se tem o domínio da visão do todo, apenas da parte. Nutrir expectativas é querer que aquilo que eu penso ou sinto ou vejo seja a exata compreensão do que esta acontecendo ou do que estou esperando em seu todo. Daí, exatamente, nasce a frustração, pois nenhum de nós consegue perceber o todo, sempre vemos em partes. Ter perspectivas é aceitar a representação que faço, mas sempre sabendo que é de um determinado ponto de vista e não na apreensão do todo.

As Sagradas Escrituras nos situam na direção da perspectiva: "Não só isso, mas nos gloriamos até das tribulações . Pois sabemos que a tribulação produz paciência, a paciência prova fidelidade e a fidelidade, comprovada, produz a esperança. E a esperança não engana" (Rm. 5,3-5ª). O termo esperança só aparece depois que são citadas a tribulação, a paciência, ou seja, ultrapassou-se a barreira das expectativas nutridas e das frustrações possíveis e entrou-se no campo da esperança, essa, sim, que não decepciona. Expectativas decepcionam; a esperança não!

E ainda São Paulo que nos fala da impossibilidade de vermos o todo enquanto aqui estamos: "Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente; como eu sou conhecido" (1Cor. 13, 12).Tudo o que aqui percebemos, e conseqüentemente esperamos, é sempre percebido como que num espelho, ainda em parte. Ficar por isso frustrado? Não; ao contrário! Somos livres daquela frustração que se enraíza, pois sabemos que até mesmo uma derrota ou decepção que sofremos é relativa e ali mesmo pode estar embutida uma grande vitória. Ai, sim, está a real esperança que se baseia não no que se percebe, mas na fé e que vai além da história, tocando a meta-história, o que esta além desse plano.

Humanamente a vida lhe foi um fracasso; seus perseguidores o abandonaram; muitos dos que o aclamavam com "vivas" gritavam para que o crucificassem; a resposta para tanto amor doado foi a cruz. Aqueles que nutriam expectativas de um final triunfante para sua missão o abandonaram, como aconteceu com Judas. Mas aqueles que tinham uma perspectiva muito maior do que era apenas visível, superaram o terror da morte e sua frustração e provaram a força da ressurreição.

Pense em relação à sua vida se não é isso que acontece. Creia, espere, vá além, daquilo que os olhos vêem. Aprenda a esperar e a lidar com suas frustrações e decepções. Saiba que a página final da história daquele que crê em Jesus ainda esta por se escrever. E siga em frente, elaborando suas perdas, chorando frustrações e superando etapas. Um dia você conhecerá como hoje você é conhecido!

Autor: Pe. Sérgio Luiz e Silva, C.Ss.R


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