domingo, 20 de dezembro de 2009

O Presente

Armadilhas do Passado
"Estudemos as coisas que já não existem. É necessário conhecê-las, ainda que não seja senão para as evitar. As contrafacções do passado tomam nomes falsos e gostam de chamar-se o futuro. Esta alma do outro mundo, o passado, é atreita a falsificar o seu passaporte. Precatemo-nos contra o laço, desconfiemos dela. O passado tem um rosto, que é a superstição, e uma máscara, que é a hipocrisia. Denunciemos-lhe o rosto e arranquemos-lhe a máscara."
Victor Hugo, in 'Os Miseráveis'
 
                            
 
O Presente sem Passado nem Futuro

"Vivo sempre no presente. O futuro, não o conheço. O passado, já o não tenho. Pesa-me um como a possibilidade de tudo, o outro como a realidade de nada. Não tenho esperanças nem saudades. Conhecendo o que tem sido a minha vida até hoje - tantas vezes e em tanto o contrário do que eu a desejara -, que posso presumir da minha vida de amanhã senão que será o que não presumo, o que não quero, o que me acontece de fora, até através da minha vontade? Nem tenho nada no meu passado que relembre com o desejo inútil de o repetir. Nunca fui senão um vestígio e um simulacro de mim. O meu passado é tudo quanto não consegui ser. Nem as sensações de momentos idos me são saudosas: o que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história continua, mas não o texto."

 Fernando Pessoa, in 'Livro do Desassossego'

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

No limite


Sofremos, a maior parte das vezes, por coisas que deixamos de viver e não pelo que vivemos. Contraditório isso, não? Sofrimento esse meio sem sentido... As pessoas e situações nos decepcionam porque criamos certas expectativas em relação a elas.
Sonhamos, imaginamos, criamos a ilusão de viver o que queremos. Os que têm fé chegam até a rezar, entregar  e pedir à Deus o que tanto aspiram...O mais engraçado (é preferível rir do que chorar) é que Deus realmente nos escuta e, na maior parte das vezes, nos manda sinais. Sinais que indicam a direção. No entanto, quando esses sinais são contrários às nossas vontades...somos mestres em ignorá-los. Deus, na sua infinita paciência, ainda permite que certas situações aconteçam para que enfim enxerguemos os fatos...ainda assim, várias vezes, fingimos que nada está acontecendo...Teimosia, tem hora, que vira sinônimo de burrice, estupidez...ou mesmo falta de amor próprio.  E o orgulho não nos deixa admitir que estamos no caminho errado... Somos especialistas em nos manipular quando queremos. Nos enganamos com as justificativas mais convincentes possíveis e ainda conseguimos persuadir todos a nossa volta de que o que escolhemos é o melhor. Existe um limite tênue entre o "ser pessoa determinada e persistente" e entre o "ser pessoa teimosa". Pois é, mas teimosia cansa. É preciso enxergar as coisas como elas são e não como queremos vê-las. Há a hora de virar a página. Os pés precisam sentir o chão! Em certos momentos, ter a coragem de não mais olhar pra trás é deixar-se amadurecer. Concordo que insensibilidade alheia é uma coisa que realmente machuca, mas é importante parar de se lamentar e seguir em frente, mudar a direção, mudar o foco. Por isso é necessário agir conforme o que nos apresenta e não de acordo com expectativas ou probabilidades. Como dito antes, metade do nosso sofrimento, deriva, muitas vezes, do que esperamos e não aconteceu.
Por isso, é o momento de "lidar com coisas reais" e não com "sonhos de papel".

Desapegar-se das coisas antigas não é fácil. Além de destreza, é preciso humildade para reconhecer que nem sempre está ao nosso alcance aquilo que almejamos. E inteligência é adaptar-se a todo momento às mudanças. Um consolo é que todo sofrimento e dor são causas de um crescimento posterior.

"O espinho de hoje será a flor de amanhã"


segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Futuros Amantes

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar


E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você

Letra e música "Futuros Amantes" de Chico Buarque